Constrangimentos económicos e constrangimentos ecológicos

A economia ou o clima – onde estão os constrangimentos decisivos na crise climática capitalista?

Tomasz Konicz, 04.03.2024

A economia alemã está a arder em febre.1 Cada vez mais empresas e grupos económicos anunciam despedimentos ou deslocalizações, enquanto economistas e associações empresariais alertam para a „desindustrialização“ da Alemanha. Empresas como a Miele, a Continental, a Bosch, a Volkswagen, a BASF e a Bayer já fizeram manchetes com as suas comunicações, mas estas são apenas a ponta do icebergue. De acordo com um inquérito da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), cerca de 67% das empresas inquiridas estão em vias de deslocalizar a produção para o estrangeiro, sendo particularmente afectados sectores-chave como os produtos químicos, a engenharia mecânica e a produção automóvel.

O modelo económico alemão orientado para a exportação, que visava alcançar os mais elevados excedentes de exportação possíveis, está actualmente a desmoronar-se de forma espectacular, na nova fase de crise2 em que o sistema mundial capitalista tardio está a entrar – e que se caracteriza pela desglobalização, pelo proteccionismo e pela crescente instabilidade nas cadeias de produção e de abastecimento globais. A par de outros países da zona euro, actualmente um destino particularmente visado para a deslocalização de empresas são os EUA, onde a administração Biden prossegue efectivamente as políticas proteccionistas de Trump.3 Não só os salários e os impostos, mas também os custos energéticos são agora demasiado elevados na Alemanha, queixou-se Markus Miele, sócio-gerente do Grupo Miele, por ocasião do anúncio de despedimentos em massa em Gütersloh. Com esta queixa Markus Miele está na linha da tendência: nos inquéritos – para além da redução da burocracia – uma redução significativa dos preços da energia é citada por cerca de 69% das empresas como medida sensata para „reforçar a atractividade da Alemanha como local de negócios“.

Isto significa que a comunidade empresarial está efectivamente a exigir o fim dos esforços, já de si tímidos, da coligação do semáforo para descarbonizar a produção e a distribuição, e estabelecer um capitalismo verde e ecologicamente sustentável na Alemanha. Isso às vezes também acontece explicitamente.4 Em novembro passado o presidente do patronato, Rainer Dulger, apelou à coligação para que abandonasse os seus objectivos de protecção do clima, uma vez que os „projectos verdes da coligação do semáforo“ dificultariam a localização das empresas. „Se a coligação do semáforo puser em prática tudo o que planeou em termos de política climática, a Alemanha deixará de ser capaz de se manter a nível internacional“, avisou Dulger, que apelou a mais economia de mercado.

A CDU apoia com gosto os gestores que se queixam do frenesim regulamentar ecológico e dos elevados preços da energia, bem como as suas exigências. Astrid Hamker, presidente do Conselho Económico da CDU, apela a uma agenda de crescimento para a Alemanha, que ameaça voltar a ser o „homem doente“ da Europa devido à „política energética mais estúpida do mundo“. „Ignorar as leis económicas significa colocar o desejo à frente da realidade“, adverte Hamker num artigo de opinião para o Wirtschaftswoche.5 O político da CDU refere-se simplesmente aos constrangimentos mediados pelo mercado que surgem inevitavelmente da economia capitalista.

E é assim que as coisas são. O imperativo capitalista do lucro – a necessidade de maximizar o valor do capital investido – impõe-se no mercado através da concorrência. Se as empresas alemãs são confrontadas com custos mais elevados, em resultado da política climática da coligação do semáforo, então estão em desvantagem no mercado global, em comparação com todos os concorrentes não onerados com os custos da reforma ecológica. Em termos concretos, isto traz à luz uma verdade incómoda que até agora tem sido largamente ignorada, especialmente no movimento ecológico próximo dos Verdes. O Green New Deal, a ideia de construir um novo sector ecológico de ponta na economia, continua a ser uma ilusão.6 Este projeto de reforma, no qual uma eco-indústria deveria modernizar o capitalismo e ao mesmo tempo evitar a crise climática, constituiu a base ecológica da ascensão política do Partido Verde.7

Devido à compulsão fetichista de valorização do capital,8 o capitalismo e a protecção do clima são incompatíveis.9 As „leis económicas“ da economia capitalista, de que falava o político da CDU, Hamker, obrigam as sociedades capitalistas a conseguir cada vez mais „crescimento económico“, mesmo que isso agrave a crise climática. Entretanto, a ideia de um Green New Deal, que deveria conciliar ecologia e crescimento económico, também está a ser questionada nos media burgueses. Em reportagens de fundo e entrevistas, o semanário Die Zeit10 e a Spiegel-Online11 discutiram estudos correspondentes, segundo os quais a descarbonização pretendida no interior do capitalismo é mais um fardo económico do que um motor económico.

De acordo com estes estudos, a protecção do clima exigiria elevados investimentos sem criar novas capacidades de produção (a relação entre os investimentos necessários e a efectiva valorização de trabalho assalariado no sector verde é desfavorável devido ao nível de produtividade alcançado globalmente).12 As previsões económicas a longo prazo continuam assim a prever uma taxa de crescimento anual magra para a Alemanha no período até 2028, de apenas 0,9 (Institutos de investigação económica alemães) a 1,1 por cento (FMI). Além disso, a transformação ecológica será um travão ao crescimento económico, uma vez que só o pacote climático da UE (“Fit for 55” [redução em 55% dos gases com efeito de estufa até 2030]) deverá custar à Alemanha cerca de um por cento do seu crescimento económico. Numa entrevista à Spiegel-Online, o autor de um vasto estudo sobre a interacção entre a protecção do clima e a economia chegou a uma conclusão preocupante: „O crescimento verde é uma quimera que devemos abandonar o mais rapidamente possível“. Nenhum dos 36 países analisados no estudo foi capaz de „reduzir as suas emissões de CO2 com rapidez suficiente e aumentar o seu produto interno bruto ao mesmo tempo“.

O capital e a protecção do clima são incompatíveis devido à compulsão de valorização do capital. É por isso que a política climática está na defensiva e os negacionistas climáticos e guarda-freios climáticos de direita estão em vantagem. A política climática no interior do capitalismo não funciona; representa uma desvantagem concorrencial bem concreta que está a exacerbar a crise económica do antigo campeão mundial de exportações. A direita fóssil – da AfD ao FDP e à CDU – tem simplesmente as „leis da economia“ a apoiá-la nos seus ataques à política de reformas dos Verdes. Com base nos constrangimentos capitalistas, a [confederação empresarial] BDA e a CDU têm simplesmente razão.

No entanto, a crise climática capitalista13 tem constrangimentos completamente diferentes, a maioria dos quais já não aparece nos cabeçalhos dos amedrontados relatórios alemães. Estes constrangimentos encontram-se nas correntes aéreas e oceânicas globais, na temperatura da água, na concentração de água salgada do Atlântico Norte e simplesmente na atmosfera. O ano passado parece já ter ultrapassado um limiar importante, uma vez que a temperatura global foi, em média, 1,5 graus Celsius superior ao valor de referência pré-industrial, com novos recordes históricos negativos a serem constantemente medidos, tanto a nível local como global. O mesmo aconteceu em janeiro de 2024, com 1,66 graus Celsius acima dos valores comparativos do início do século XIX.14 O degelo no Ártico e na Antárctida continua a acelerar, o que significa que parece provável uma subida do nível do mar de dúzias de metros.15 As temperaturas da água atingiram níveis recorde absurdos em 2023: 28,7 graus no Mediterrâneo16, 25 graus no Atlântico Norte,17 e 36,1 graus ao largo da Flórida.18 O aumento das temperaturas e dos gases com efeito de estufa está a criar cada vez mais zonas mortas nos oceanos do mundo, onde a vida já não é possível.19 Em apenas algumas décadas, partes do planeta serão simplesmente inabitáveis devido ao rápido aumento das temperaturas.20

Ao mesmo tempo as emissões globais de gases com efeito de estufa aumentaram 1,1% em 2023, atingindo um novo máximo histórico de 36,8 mil milhões de toneladas de CO2.21 A economia tem de crescer, e este crescimento, que é apenas a expressão económica da compulsão de valorização do capital, produz gases com efeito de estufa. A crise climática capitalista está a caminhar para o pior cenário possível. As leis do mercado, que não podem ser ignoradas, estão em rota de colisão com as leis da física, que permanecem subexpostas no actual discurso alemão sobre a crise. De facto, parece que a opinião publicada dá mais importância aos constrangimentos da economia do que aos constrangimentos ecológicos.

O discurso da crise na Alemanha assenta num pressuposto básico implícito, reforçado sobretudo pela Nova Direita: A crise climática atingirá em primeiro lugar o Sul global, enquanto os centros do Norte do sistema mundial poderão ainda conseguir um adiamento. As campanhas xenófobas para o encerramento total das fronteiras, que consolidaram com sucesso a hegemonia da direita na Alemanha em 2023,22 são já motivadas pela antecipação de futuros movimentos de refugiados relacionados com o clima. O Sul deve morrer na crise climática enquanto o Norte se fecha – é este o cálculo subjacente a estas campanhas para fechar as fronteiras.

Mas a crise climática não segue os pressupostos ideológicos básicos dos centros do Norte do sistema mundial. A primeira grande catástrofe climática poderá atingir com particular intensidade o noroeste da Europa, onde os populistas e extremistas de direita estão a celebrar um sucesso tão grande com o nacionalismo, a xenofobia e o isolacionismo. Um estudo recentemente publicado confirmou o perigo de colapso do sistema de correntes atlânticas, incluindo a Corrente do Golfo, que transporta a água quente das Caraíbas para o Atlântico Norte – e proporciona à Europa Ocidental o seu clima estável e ameno.23 Um ponto de viragem que poderá desencadear uma cessação súbita e catastrófica da circulação das correntes do Atlântico foi claramente confirmado por modelos climáticos complexos.24 O degelo do Ártico já está a provocar um enfraquecimento crescente da Corrente do Golfo – 15% desde 1950. No entanto, os investigadores não conseguem prever o momento concreto.

Há uma espada de Dâmocles climática a pairar sobre a Europa, cujo fio pode partir a qualquer momento. E ninguém pode prever quando é que esse ponto de viragem será ultrapassado. Daqui a um ano? Numa década? Num século? Não existem „medidas de adaptação realistas“ caso este ponto de viragem seja ultrapassado. Em poucos anos o clima alterar-se-ia profundamente, especialmente no noroeste da Europa: A Europa secaria e tornar-se-ia muito mais fria, enquanto o Sul global aqueceria muito mais rapidamente. A descida da temperatura ocorreria a um ritmo acelerado de cerca de três graus Celsius por década e resultaria no alastramento do gelo do Ártico até ao Canal da Mancha no inverno (até à data, as alterações climáticas conduziram a um aquecimento médio de 0,2 graus por década).25 Seria provável um colapso civilizacional, uma vez que é precisamente o sistema climático global estável que tem sido um pré-requisito básico para o processo civilizacional ao longo dos últimos milénios.

Por conseguinte, face a esta ameaça concreta, parece absurdo continuar a pensar em termos de constrangimentos económicos e a falar de previsões económicas, de estímulos ao crescimento, de travões da dívida ou de competitividade. Ainda assim, a opinião pública considera que as „leis da economia“ são tão imutáveis como as leis da natureza. Por um lado, é o discurso burguês reificado, centrado em „questões de facto“ delimitadas, que permite propagar, nos debates económicos, o aumento do „crescimento“ capitalista que promove, ao mesmo tempo, o colapso climático. O discurso económico só precisa de ser cuidadosamente separado do discurso climático. No entanto, a crise climática capitalista não segue estas convenções.

Mas o factor decisivo para a aparência „natural“ das relações capitalistas é o fetichismo do capital, o seu automovimento global e social em todos os seus estados agregados (dinheiro, mercadoria, trabalho), que é inconscientemente produzido pelos sujeitos do mercado. No capitalismo, as pessoas estão impotentemente expostas a uma dinâmica do capital que é constituída através do mercado, e que elas próprias literalmente elaboram todos os dias enquanto sujeitos do mercado. Isto também pode ser visto nas intervenções públicas acima referidas dos executivos da BDA, que deixam claro por que razão a maximização do lucro tem de prevalecer sobre a protecção do clima. Através do mercado, o concorrente que não se importa com a ecologia prevalecerá no mercado mundial. O facto de os capitalistas não terem qualquer controlo sobre o capitalismo é evidenciado não só pelas crises económicas, quando os terramotos do mercado financeiro devastam regiões inteiras, mas também pela crise climática, que também privará a economia das suas bases de negócio.

As leis capitalistas da economia, a dinâmica do capital como „sujeito automático“ – tudo isso é obra do ser humano e pode, portanto, ser mudado, ultrapassado e passado à história. No entanto, a sua imposição e manutenção ocorre sem sujeito „nas costas“ (Marx) dos produtores, como „compulsão silenciosa“ das condições mediada pelo mercado,26 que impõe a maximização do lucro mesmo quando o clima está a entrar em colapso. A sociedade, a Terra inteira com todos os seus recursos, são apenas o material do processo de valorização sem fim da relação de capital, em que é preciso fazer do dinheiro mais dinheiro através da produção de mercadorias. E esta tautologia oca, que Marx resumiu como „sujeito automático“, é cega a todas as consequências ecológicas e sociais do seu movimento de valorização. A crise climática capitalista não é uma crise de distribuição, como sugere o chavão oportunista „justiça climática“,27 é uma crise sistémica.

Do sentimento de heterodeterminação, de heteronomia que o capital gera na sua compulsão fetichista de valorização, resulta também a falsa aparência de „naturalidade“ do capital e das correspondentes „leis da economia“, que os seus apologistas gostam de invocar. Por isso a ultrapassagem da relação de capital que se desenvolve em amoque só será concebível como a abolição deste movimento social global de valorização – para o substituir pela compreensão consciente da sociedade sobre a forma e o conteúdo da reprodução. De qualquer modo, o tempo do capital esgotou-se, o „crescimento“ sem fim é autodestrutivo. Resta apenas a questão de saber se o colapso da civilização para que caminha o capital ainda pode ser evitado no quadro de uma transformação emancipatória.

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1 https://www.n-tv.de/politik/politik_person_der_woche/Der-naechste-Job-Schock-In-der-Industrie-brennt-es-lichterloh-article24715680.html

2 https://www.konicz.info/2024/01/25/leerlauf-der-exportdampfwalze/. Em português: https://www.konicz.info/2024/01/31/o-rolo-compressor-das-exportacoes-em-ponto-morto/

3 https://www.konicz.info/2023/08/26/bidens-improvisierter-masterplan/ Em português: https://www.konicz.info/2023/08/27/o-improvisado-masterplan-de-biden/

4 https://www.spiegel.de/wirtschaft/arbeitgeberpraesident-rainer-dulger-stellt-klimaziele-infrage-a-0d4324d2-1630-4f4e-babf-2e4e150e1591

5 https://www.wiwo.de/politik/deutschland/rezession-deutschland-killt-seinen-wohlstand-wo-bleibt-die-wachstumsagenda-/29660578.html?utm_content=organisch&utm_term=ne&utm_medium=sm&utm_campaign=standard&utm_source=Facebook#Echobox=1708329045

6 https://www.konicz.info/2019/07/05/kann-ein-green-new-deal-den-klimawandel-aufhalten/

7 https://www.streifzuege.org/2011/die-oekologischen-grenzen-des-kapitals/

8 https://www.konicz.info/2022/10/02/die-subjektlose-herrschaft-des-kapitals-2/

9 https://www.konicz.info/2022/01/14/die-klimakrise-und-die-aeusseren-grenzen-des-kapitals/

10 https://www.zeit.de/2023/20/klimaschutz-wirtschaftswachstum-energiewende-unternehmen

11 https://www.spiegel.de/wirtschaft/soziales/klimaschutz-und-wirtschaftswachstum-gruenes-wachstum-ist-ein-wunschtraum-a-b2df7af4-71f4-4107-8184-0e2d6155badd

12 https://www.konicz.info/2012/12/09/noch-funf-jahre-2/

13 https://www.konicz.info/2018/06/06/kapital-als-klimakiller/

14 https://www.spiegel.de/wissenschaft/natur/erderwaermung-lag-erstmals-zwoelf-monate-lang-ueber-1-5-grad-zahlen-von-copernicus-a-61df2697-487b-482a-a21a-3a60d6b2732a

15 https://www.fr.de/wissen/antarktis-szenario-koennte-sich-wiederholen-studie-zeigt-erschreckenden-eisverlust-in-der-92826010.html

16 https://de.euronews.com/2023/07/26/rekord-wassertemperatur-im-mittelmeer-liegt-bei-erschreckenden-287-grad

17 https://www.tagesschau.de/wissen/nordatlantik-temperaturen-100.html

18 https://www.tagesschau.de/ausland/amerika/klima-florida-meer-temperatur-100.html

19 https://www.geo.de/natur/klimawandel-muell-todeszonen-sind-die-meere-noch-zu-retten-31916322.html

20 https://www.konicz.info/2022/06/21/hitzetod-in-der-klimakrise/

21 https://www.pik-potsdam.de/de/aktuelles/nachrichten/co2-emissionen-im-jahr-2023-auf-rekordniveau

22 https://www.kontextwochenzeitung.de/debatte/667/die-extreme-mitte-9310.html Em português: https://www.konicz.info/2024/01/18/o-extremo-centro/

23 https://www.klimareporter.de/klimaforschung/studie-findet-kipppunkt-der-atlantik-stroemunghttps://www.klimareporter.de/klimaforschung/studie-findet-kipppunkt-der-atlantik-stroemung

24 https://www.klimareporter.de/klimaforschung/studie-findet-kipppunkt-der-atlantik-stroemung

25 https://insideclimatenews.org/news/09022024/climate-impacts-from-collapse-of-atlantic-meridional-overturning-current-could-be-worse-than-expected/

26 https://www.exit-online.org/textanz1.php?tabelle=autoren&index=22&posnr=135&backtext1=text1.php. Em Português: Dominação sem sujeito, online: http://www.obeco-online.org/rkurz86.htm

27 https://www.konicz.info/2023/09/06/unwort-klimagerechtigkeit/. Em Português: A falsidade da justiça climática, online: http://obeco-online.org/tomasz_konicz40.htm

Original “Von ökonomischen und ökologischen Sachzwängen” in konicz.info, 23.02.2024. Tradução de Boaventura Antunes

Von ökonomischen und ökologischen Sachzwängen
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