Combates ferozes no oblast de Zaporíjia

A iminente ofensiva russa no sul da Ucrânia já começou?

22.01.2023, Tomasz Konicz

Estão actualmente a ser relatados combates ferozes no sudeste da Ucrânia, da região de Zaporíjia. Segundo os media ucranianos, nesta região, situada entre o Donbass e o Dnieper, tem havido nas últimas horas ataques de artilharia particularmente pesados por parte da Rússia, enquanto as agências russas relatam ganhos de território e a conquista de localidades. Os porta-vozes do exército ucraniano descreveram a situação no Donbass e Zaporíjia como „difícil“, de acordo com o Kiev Post.1

Os media russos falam de várias aldeias tomadas e de um avanço sobre a cidade de Orikhiv, que desempenha um papel estratégico.2 Diz-se que Orikhiv é um centro de transporte regional chave que poderia facilitar os ataques russos contra a grande cidade de Zaporíjia. Uma bem sucedida ofensiva russa ao longo da margem oriental do Dnieper cortaria ao exército ucraniano no Donbass as suas linhas de abastecimento. Diz-se que as defesas ucranianas em Zaporíjia foram violadas em vários locais, o que provavelmente está ligado aos combates sangrentos em torno da cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

A fim de manter Bakhmut, a liderança do exército ucraniano retirou tropas de várias secções da frente – enfraquecendo assim inevitavelmente as posições de defesa ucranianas em muitos locais. Recentemente foram divulgadas avaliações do Serviço Alemão Federal de Informações (BND) sobre a situação militar no Leste, segundo as quais o exército ucraniano se encontra agora numa situação difícil.3 De acordo com estas avaliações, a Ucrânia está a perder „um número de soldados de três dígitos“ todos os dias só em Bakhmut, que há muito tem tido uma carga simbólica. Além disso, com a perda da cidade, haveria o risco de „mais avanços para o interior“ por parte das tropas russas, uma vez que toda a linha de defesa ucraniana teria de ser abandonada (ver também „A oportunidade perdida de Kiev?“).4

Corrida assassina

Entretanto, os ataques das tropas mercenárias russas à volta de Bakhmut continuam com uma intensidade não diminuída. O exército ucraniano deve agora decidir como utilizar as suas restantes reservas: no Donbass, para continuar a deter Bakhmut e atrasar ainda mais a retirada para uma nova linha defensiva perto de Slowyansk/Kramatorsk, ou em Zaporíjia, para travar o avanço russo para norte. Além disso, Moscovo ainda tem grandes reservas que podem ser lançadas para a batalha. De acordo com o relatório, várias centenas de milhares de homens que ainda não intervieram nos combates estão à disposição do Kremlin para novos ataques. Fontes ucranianas disseram aos media norte-americanos que o número era de cerca de 200.000.5 Outras estimativas, que têm em conta o actual recrutamento anual no caso de uma mobilização geral do Kremlin, chegam a mais de 500.000 homens.

Os súbitos ataques dos militares russos na região estrategicamente crucial de Zaporíjia – onde a Rússia conseguiu capturar uma ponte terrestre entre Donbass e Crimeia no início da invasão – parecem estar relacionados com as recentes entregas de armas ocidentais, que por vezes incluem sistemas muito eficazes.6 Embora Berlim tenha bloqueado a entrega de tanques alemães, Kiev receberá em breve sistemas de artilharia de longo alcance (GLSDB),7 que podem efectivamente perturbar os abastecimentos e os sistemas de comando russos. O Kremlin quer obviamente intensificar agora a sua campanha imperialista de conquista antes que os novos sistemas de armas sejam implantados no campo de batalha, o que por vezes pode levar semanas, se não meses, devido à dificuldade de entrega e ao tempo de treino necessário.

Com efeito, trata-se de uma corrida assassina entre as entregas de armas ocidentais e os esforços de avanço russos, na qual o Kremlin parece estar a desencadear a ofensiva já planeada precisamente na região onde a Rússia é mais vulnerável. A região de Zaporíjia seria também um alvo importante para uma contra-ofensiva ucraniana, a fim de recapturar a ponte terrestre entre o Donbass e a Crimeia, o que seria uma condição prévia de qualquer esforço ofensivo contra a Crimeia.

A Rússia ocupou a Crimeia em 2014 e mais tarde anexou-a formalmente. Em meados de Janeiro, entretanto, os media americanos deram a entender que os Estados Unidos também querem ajudar a Ucrânia a atacar directamente a Crimeia no futuro – Crimeia que Moscovo há muito considera território russo.8 Até agora, Washington recusou-se a fornecer a Kiev os sistemas de armas correspondentes. Moscovo parece ter sido apressada por estas mesmas considerações para lançar uma ofensiva – possivelmente prematura? – em Zaporíjia, a fim de destruir esta opção ofensiva ucraniana.

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1 https://www.kyivpost.com/post/11362

2 https://twitter.com/rybar_en/status/1616486643090718743

3 https://www.deutschlandfunk.de/bnd-besorgt-ueber-lage-im-osten-100.html

4 https://www.konicz.info/2023/01/19/kiews-verpasste-chance/. Em português: https://www.konicz.info/2023/01/21/a-oportunidade-perdida-de-kiev/

5 https://thehill.com/policy/defense/3818361-russia-is-planning-a-major-offensive-heres-what-that-might-look-like/

6 https://www.nytimes.com/2023/01/19/podcasts/the-daily/ukraine-russia-war-weapons.html

7 https://mil.in.ua/en/news/stryker-and-glsdb-to-enter-new-aid-package-from-us-to-ukraine-politico/

8 https://www.nytimes.com/2023/01/18/us/politics/ukraine-crimea-military.html

Original “Heftige Kämpfe in Oblast Saporischschja” in: konicz.info, 21.01.0222. Tradução de Boaventura Antunes

Heftige Kämpfe in Oblast Saporischschja
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