OPORTUNISMO NA CRISE

12.10.2022, Tomasz Konicz

Como o Partido da Esquerda quer utilizar a actual crise como trampolim de carreira por meio da demagogia social.

Se a história ainda for escrita nas próximas décadas, 2022 será o ano em que a crise climática capitalista começou a transformar-se numa catástrofe climática global. Na Europa, EUA e China, rios e lagos de água doce estão a secar, enquanto as árvores que não rebentam em chamas se tornam castanhas no meio do Verão.1 O número de mortes por calor2 é provável que se situe nas dezenas de milhares. No Paquistão, uma inundação devastadora já cobriu cerca de um terço do país, afectando 30 milhões de pessoas. Grandes partes do país, grandes áreas de terra cultivada, foram destruídas.3 Em muitos países, o fornecimento de energia dificilmente pode ser mantido sem interrupções, existe uma ameaça de deseletrificação durante os períodos de calor.4 Em várias regiões dos EUA, o fornecimento de água pode entrar em colapso.5

O impacto nos preços dos alimentos da época de calor e incêndios deste ano – anteriormente conhecida como „Verão“ – no hemisfério norte é susceptível de causar dificuldades existenciais a muitos milhões de pessoas, não apenas no Sul global. E é claramente óbvio que se trata de uma crise climática capitalista,6 uma vez que o capital, na sua compulsão de valorização, é incapaz de reduzir as emissões globais de CO2 – isto só aconteceu no século XXI ao preço de uma crise económica mundial. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), as emissões globais de gases com efeito de estufa, depois de terem diminuído durante a pandemia, atingirão um novo máximo histórico em 2023 – e não há nenhuma inversão da tendência à vista.7 O nível pré-crise deverá ser atingido já este ano.

É assim uma verdade simples e óbvia que a relação de capital tem de ser o mais rapidamente possível passada à história, se não se quiser que a crise climática leve à barbárie e ao colapso social. A dinâmica fetichista própria do capital como valor que se valoriza sem fim está a destruir o mundo.8 E esta verdade está claramente à vista. Não é um conhecimento secreto. Neste momento, muitas pessoas compreendem que o crescimento económico sem fim num mundo finito é uma insanidade. A esmagadora maioria da população pelo menos sente que as coisas não podem continuar assim, que a sociedade capitalista tardia está a caminhar para o abismo – excepto no Partido da Esquerda juntamente com as partes agora abertamente reaccionárias do que se intitula esquerda alemã.

Demagogia social na crise

Então de que precisamos depois do Verão de horror deste ano? O Partido da Esquerda tem o seu caminho, um „Outono quente“ de protestos sociais. Portanto, precisamos de mais capitalismo, só que deve ser social. Das inúmeras possibilidades de reagir à crise sistémica manifesta, ao colapso do clima, à inflação, ao empobrecimento, à erosão social, ao fascismo, à guerra e à recessão, os decisores conservadores da Casa Karl Liebknecht escolheram a variante anacrónica e oportunista, que, em última análise, equivale a demagogia social. Não há regresso ao capitalismo renano e à economia social de mercado face ao desenrolar da crise. A „esquerda“ – tendo em vista opções de coligação – quer enriquecer com uma componente social a ideologia de crise do „capitalismo verde“ popularizada com sucesso pelos Verdes.

Demagogia social significa dizer às pessoas mentiras doces e convenientes para fazer delas um capital político. É isto que o Partido da Esquerda – em todas as suas facções – está a fazer neste momento: ao marginalizar a teoria da crise radical e a crítica do sistema no seio da esquerda, está implicitamente a fingir para as pessoas assustadas que a crise sistémica ecológica e económica ainda pode ser dominada através da redistribuição e do Estado social, a fim de obter votos e cargos na próxima administração da crise através desta gestão do movimento, através da des-radicalização da resistência potencial. De facto, o Partido da Esquerda quer criar procura para si próprio entre as elites funcionais, ou seja, quer a gestão da oposição. É, por assim dizer, a última oportunidade oportunista do Partido da Esquerda. Nesta campanha não se trata das pessoas ameaçadas pela queda, trata-se de que o Partido da Esquerda de facto lhes mente com a cómoda bobagem do capitalismo social, enquanto os nossos rios secam e o sistema caminha para o colapso sócio-ecológico.

Os protestos sociais na escalada da crise sistémica, em que o medo existencial bem justificado das pessoas é instrumentalizado para fins político-partidários, a fim de distorcer a questão sistémica manifesta numa mera questão de redistribuição – esta demagogia não é apenas um exemplo caricatural de falsa imediatidade,9 mas também o resultado de uma crítica do capitalismo reduzida à mera ideia da luta de classes e da redistribuição. É uma adesão reaccionária ao antigo em colapso que abre espaços para a frente transversal10 de velhos esquerdistas e novos direitistas, como já é uma realidade nas províncias da Alemanha Oriental, por exemplo em Brandenburg an der Havel, onde a 17 de Setembro o Partido da Esquerda, o „Aufstehen“ de Wagenknecht, o movimento pela paz, os pensadores cruzados, a AfD e os nazis se manifestaram em conjunto pela paz e pelo gás russo. O Partido da Esquerda está agora a competir com a AfD em termos de demagogia social. Literalmente nas mesmas manifestações.11 A frente transversal – tal como propagada em órgãos de frente transversal como a Telepolis12 – é a realidade, sendo expressão da brutalização geral induzida pela crise e da regressão da esquerda alemã que isto dificilmente cause um grito, dificilmente cause um escândalo.

E o que faz o protagonismo nacional-social do desaforo oportunista chamado Partido da Esquerda nesta crise existencial? Exige mais combustíveis fósseis, é claro. Sahra Wagenknecht, a esquerdista preferida da direita alemã sem excluir qualquer partido, já exigiu em meados de Agosto, juntamente com o direitista do FDP Kubicki, a entrada em serviço do entretanto sabotado gasoduto Nord Stream 2, porque isso beneficiaria mais „o povo e a indústria na Alemanha“ do que Putin.13 As partes abertamente reaccionárias de uma „esquerda“ que já está literalmente a marchar com os nazis estão assim a exigir, em reacção à escalada da crise sistémica do capital, uma solidificação do capitalismo fóssil. Mas tem de ser social!

A liderança do Partido da Esquerda está na realidade a dizer às pessoas que na catástrofe climática em curso, na agonia manifesta do capital, nada mais é necessário do que um capitalismo socialmente justo. Isto não é um exagero polémico. Bastava ouvir o actual co-presidente, Martin Schirdewan, na sua entrevista de Verão à ARD, que exigiu uma „distribuição justa dos encargos da crise esperada“, e deu como objectivo do „Outono quente“ „exercer pressão sobre o governo federal e fazê-lo agir“ para introduzir um „limite de preço do gás“ e um „imposto sobre os lucros excedentários“ proporcionados pela crise.14

Mesmo que estas observações desajeitadas, grotescamente desproporcionadas ao desenrolar da crise, fossem levadas a sério e implementadas, seriam simplesmente ineficazes. Redução dos lucros, controlo dos preços pelo Estado, nacionalização – as reivindicações dos crentes no Estado fazem lembrar de forma impressionante as medidas de crise falhadas implementadas na periferia do sistema mundial, por exemplo na Turquia ou na Venezuela (e isto é precisamente uma consequência do progresso do processo de crise, que avança da periferia para os centros, de modo que a devastação social no Sul global proporciona um vislumbre do futuro da crise que se desenrola nos centros). O Partido da Esquerda juntamente com o seu apêndice keynesiano está de facto a seguir os passos do crítico dos juros Erdogan15 – sem se aperceber disso.

Oportunismo de esquerda, frente transversal e nova direita

Por vezes, ao formular estas exigências anacrónicas e social-democratas, a causalidade da crise é invertida (por exemplo, quando a inflação é reduzida aos lucros extra). A sátira real neo-keynesiana chamada „Nova Teoria Monetária“, que ainda há poucos meses pregava a impressão de dinheiro ilimitada,16 foge da sua falência intelectual face à inflação de dois dígitos para teorias de conspiração simplistas, em que o actual aumento dos preços, que anuncia a desvalorização do valor,17 é suposto resultar da ganância empresarial. Como se antes da inflação – alimentada pela inundação de dinheiro, a pandemia, a crise climática e a explosão da bolha de liquidez nos mercados financeiros18 – o capital não tivesse procurado obter lucros máximos. As consequências da crise mundial do capital moribundo devido às suas contradições internas, que na sua agonia devastam os ecossistemas e a sociedade, são transfiguradas na sua causa através da construção de grandes vilões (como as corporações estrangeiras de energia) que supostamente são responsáveis por ela, a fim de então proporem como solução impostos mais elevados ou redistribuição.

A crise sistémica é personificada através da produção de bodes expiatórios, que acabará por beneficiar a nova direita, que, de facto, se apoiará no „trabalho de base“ oportunista do Partido da Esquerda. A nova direita só tem de substituir a imagem do inimigo de bonzo maléfico, que está actualmente a ser construída pela Esquerda como a causa da crise, pela imagem do inimigo da conspiração estrangeira e do parasita estrangeiro, que é incomparavelmente mais eficaz na República Federal com a sua terrível tradição autoritária. A personificação das causas de crise numa crise sistémica conduz inevitavelmente à ideologia da crise. O Partido da Esquerda – e não apenas Wagenknecht – encoraja assim o fascismo.

Ambos – esquerda e direita – confiam assim na demagogia social no „Outono quente“. A esquerda está a fazer o jogo da nova direita (não só na Alemanha de Leste).19 Quem poderá lucrar com os protestos sociais baseados em falsos pressupostos básicos, uma vez que estão destinados a falhar na realidade da crise? A esquerda reaccionária, de direita, nacional-social, presa à falsa imediatidade e ao pensamento redutor da luta de classes, que já promoveu a ascensão da AfD e dos Pegida com as vigílias pela paz,20 com as campanhas publicitárias de Wagenknecht para a AfD durante a crise dos refugiados,21 com o „Aufstehen“ e com a colaboração com a direita na frente transversal coronavírus?22 Ou antes a direita, que deve os seus resultados eleitorais de dois dígitos na RFA à pura ansiedade da crise e à exacerbação extremista da ideologia neoliberal desenfreada (do darwinismo social ao nacionalismo da localização do investimento)?23
É assim óbvio: o que o Partido da Esquerda está actualmente a fazer é uma trafulhice oportunista que prepara o terreno para a Direita. Isto acaba por enganar as pessoas ameaçadas pela queda, cujo medo daí emergente é apenas bem justificado – e isto deve ser bastante claro para os criadores da campanha social na Casa Karl Liebknecht. Por vezes os membros do partido dizem abertamente em trocas directas de pontos de vista que simplesmente não lhes serve de nada „dizer simplesmente às pessoas“ o que se está a passar – aqui a manipulação é simplesmente o programa.

A crise sistémica do capital, que está a ocorrer como um processo mundial cego, manifesta-se não só na incipiente catástrofe climática, mas também no perigo de uma grande guerra na Europa, na crise dos recursos e da energia, na crise da dívida global, na recessão iminente, na desvalorização do valor que está a ocorrer através da inflação – enquanto a liderança do Partido da Esquerda, na sequência do conservadorismo de esquerda aberta à direita de Wagenknecht,24 quer pregar um regresso anacrónico à „economia social de mercado“. A crise sistémica atingiu um nível de maturidade em que as luzes ameaçam realmente apagar-se, como previu já em 2011 o crítico do valor Robert Kurz25 – e a esquerda cega pela crise apenas quer ver a „questão social“, como se o capitalismo estivesse a enfrentar uma nova fase de expansão como nos anos 50 e 60, que foi, afinal, a base económica do período historicamente curto da „economia social de mercado“.
A crise como trampolim de carreira

A ideologia de crise de uma transformação verde do capitalismo, de um New Deal Verde,26 que é a razão do sucesso eleitoral dos Verdes, está de facto simplesmente a ser alargada pelo Partido da Esquerda para incluir uma componente social. É um simples pensamento de coligação que se sente obrigado a sair à rua por razões de carreira e para desarmar o potencial de protesto emergente relacionado com a crise: O disparate social-democrata da „justiça climática“ é acrescentado à quimera verde do eco-capitalismo, que permite ao público agarrar-se ao capitalismo apesar da crise climática avançada. A crise como um trampolim de carreira – esta é a estratégia do „Partido da Esquerda“.

Assim, é evidente que o Partido da Esquerda – como mencionado no início – se preocupa principalmente consigo próprio no seu „Outono quente“, uma vez que este ajuntamento de comunidades de saque e vigarices oportunistas vê nisto a sua provavelmente última oportunidade para uma carreira e postos de trabalho, para carros e escritórios da empresa totalmente climatizados na próxima administração de crise. Mas a campanha social pretende também assegurar que os escândalos dos últimos anos – desde a retórica de direita de Wagenknecht, ao Klaus do Porsche na comissão climática do Bundestag, às agressões sexuais – sejam esquecidos e que o partido se mantenha acima da barreira de cinco por cento nas próximas eleições, a fim de assegurar opções de coligação na próxima administração da crise. É por isso que os ataques sociopolíticos da esquerda não se concentram no Scholz, ou no SPD, mas no FDP, cujo lugar o Partido da Esquerda quer herdar – como se Lindner fosse chanceler.

O que os multiplicadores deste partido estão actualmente a dizer é conversa pseudo-radical de luta de classes, que ao mesmo tempo se afasta de qualquer conflito fundamental, na sua preocupação com a sua própria conectividade e a „coesão“ da sociedade. Isto torna-se óbvio sempre que se trata de colocar a questão do sistema perante a crise sistémica, que todas as celebridades do Partido da Esquerda fazem o seu melhor para evitar. O partido evita esta fuga amargamente necessária e propícia ao conflito da prisão capitalista do pensamento, o que seria um pré-requisito básico para a práxis emancipatória, pois isso conduziria na realidade a conflitos graves, como as tentativas isoladas e tímidas nesse sentido têm demonstrado.27 Pelo contrário: no aparelho e no ambiente deste partido tornou-se uma imposição que todos os esforços sejam feitos para assegurar que a esquerda permaneça na falsa imediatidade capitalista, mesmo na crise sistémica manifesta.

Regressão e gestão do movimento

Foi o SPD como o partido dos „pequenos“ que impulsionou o maior programa de privação de direitos dos assalariados na história do pós-guerra da RFA com a Agenda 2010 e Hartz IV, foi o partido pacifista dos Verdes, que foi capaz de liderar a guerra de agressão contra a República Federal da Jugoslávia em violação do direito internacional – no capitalismo tardio, os partidos de esquerda formal estão predestinados a implementar políticas reaccionárias, uma vez que são particularmente bons a paralisar o potencial oposicionista, através dos seus laços estreitos com os estratos, movimentos ou organizações por eles afectados. Isto acontece primeiro através da marginalização da crítica radical e categorial dentro da esquerda, que é a condição prévia habitual para a participação governamental. A fim de se tornarem „aptos para o governo“, os Verdes, por exemplo, tiveram de afastar os seus „fundamentalistas“ nos anos 90. Um processo semelhante está a ter lugar na actual crise da esquerda, uma vez que o Partido da Esquerda só pode alcançar a sua posição desejada como administrador da crise capitalista através da marginalização da teoria da crise e da crítica radicais na esquerda de língua alemã.

Na campanha social, o Partido da Esquerda está assim simplesmente a fazer a gestão do movimento para, como já indicado, aumentar a procura de si próprio no establishment político, interceptando o medo crescente da crise e a vontade de protestar na população e desviando o descontentamento para um beco sem saída reformista. O enfoque na redistribuição e na luta de classes, acompanhado de amordaçamento e militância retórica, perseguirá uma personificação ideológica das consequências da crise, enquanto marginaliza a crítica radical e a teoria da crise, a fim de suprimir a pura necessidade de sobrevivência que é a ultrapassagem do capital. O oportunismo deve portanto forçar a regressão teórica dentro da esquerda, deve fazer recuar o nível de reflexão anteriormente alcançado sobre a crise para ser „bem sucedido“ com a sua oportunista demagogia de redistribuição.

Como esta gestão do movimento, incluindo a regressão oportunista em pseudocrítica truncada e abertamente de direita, pode ser estudada em termos concretos, por exemplo, na Telepolis da frente transversal, que foi sequestrada por uma comunidade de saque do Partido da Esquerda castanho-avermelhada do círculo do grupo parlamentar da „Esquerda“28 – a fim de posteriormente reprimir a pedido da editora a crítica radical antes possível da crise capitalista, precisamente porque a crise se está a manifestar, por exemplo, porque a incompatibilidade entre a protecção do clima e o capital é agora evidente. A habitual tematização da crise sistémica na Telepolis – apesar de todas as restrições dos media burgueses – a insistência na necessidade de transformação do sistema para a sobrevivência foi deslocada pelo Partido da Esquerda, a crítica radical deu lugar a meros resmungos sobre a desigualdade social, a aberta propaganda de direita e a enunciação puramente descritiva do que está a acontecer na crise. E é precisamente esta regressão teórica, esta psicanálise invertida, que forma a base muitas vezes inconsciente do programa oportunista do Partido da Esquerda na crise – e também fornece munições ideológicas para a nova direita.

Na mesquinhez das pequenas coisas é assim praticada a capacidade de governar no quadro geral. As forças que vêem a actual crise como um bilhete de entrada para o verde-vermelho-vermelho, que na realidade já estão a praticar para impor a razão de Estado, têm de marginalizar ou domesticar toda a „conversa da crise“ porque – ao contrário do debate da distribuição – simplesmente não é compatível com o estabelecimento político em que querem tornar-se algo. E esta neutralização da crítica e da práxis radical na crise sistémica é de facto uma capacidade prática que poderia tornar um Partido da Esquerda aberto à direita atraente para as elites funcionais capitalistas.

Concorrência de movimento

Isto é especialmente verdade na formação do discurso da crise no interior da esquerda através de multiplicadores. A conversa ininterrupta sobre política fiscal, redistribuição, benefícios sociais e nacionalização silencia a discussão sobre alternativas na crise sistémica manifesta, uma vez que isto é incompatível com as rondas de conversações e negociações da coligação. A ênfase na „política de interesses“, que se tornou oca, obscurece assim o fetichismo autodestrutivo do capital em todos os seus estados agregados. Este desvanecimento oportunista da crítica categorial, juntamente com a necessária transformação do sistema, também resulta na concorrência cada vez mais clara do movimento no interior da esquerda na crise, que não por acaso está a atingir o movimento pelo clima.29

A crise climática, que dificilmente deverá desempenhar um papel no „Outono Quente“, não pode ser pressionada para dentro da grelha grosseira dos interesses de classe, uma vez que o impulso destrutivo do capital e a impotência das elites funcionais capitalistas também são aqui revelados. Consequentemente, grupos mesmo problemáticos como „A Última Geração“ são criticados por esquerdistas reaccionários pelos seus corajosos bloqueios de rua, porque isso impediria os assalariados de trabalhar – ou seja, o processo de valorização do capital é interrompido. Estes são por vezes os mesmos potenciais administradores da crise que não vêem nada de errado com o Partido da Esquerda e os nazis a competir na demagogia social, como fizeram em Leipzig a 5 de Setembro. Ou quando marcham juntos em manifestações, como em Brandenburg um der Havel.

Mas as tensões e fricções entre diferentes abordagens do movimento à esquerda apenas apontam para as contradições sociais muito reais do capitalismo tardio: Essa concorrência no movimento, na qual o interesse de classe do capital variável – prontamente alucinado no pântano da esquerda como o „sujeito revolucionário“ – está muito concretamente em contradição com a protecção climática, não surge apenas de cálculos oportunistas das correntes nacional-social, sindical e próximas de Wagenknecht no Partido da Esquerda, que com a campanha social também fizeram uma proposta de reconciliação dentro do partido, a fim de superar a guerra de trincheiras do passado em demagogia e carreirismo comum às diversas correntes.

Oportunismo de duas faces

Desde as vigílias pela paz de 2014, aos anos de campanhas publicitárias de Wagenkencht para a AfD e a nova direita, até aos protestos de frente transversal durante a pandemia: nos últimos anos formou-se à esquerda uma grande cena de frente transversal aberta à direita, que é pouco provável que tenha qualquer receio de contacto com a direita nos próximos protestos sociais. A medida em que os efeitos de embotamento e habituação a este respeito já estão bem estabelecidos tornou-se óbvia não só em Brandenburg an der Havel,30 mas já nas manifestações paralelas em Leipzig no início de Setembro, onde os vendedores da „Junge Welt“ trouxeram naturalmente as suas mercadorias ao homem alemão no comício nazi, e os membros da tropa de frente transversal „Esquerda Livre“ puderam participar à vista de toda a gente no comício do Partido da Esquerda bem-comportado como social-democrata.

Claro que existem diferentes correntes no Partido da Esquerda, mas as forças críticas do capitalismo há muito que deixaram de desempenhar um papel no partido. É antes uma questão de abordagens diferentes da política oportunista, que actualmente se batem pelo domínio do partido. A erosão da esquerda alemã,31 que está a acelerar após a eclosão da guerra da Ucrânia, e que se está a deslocar para as forças de esquerda-liberal e próximas dos verdes, bem como para a frente transversal aberta à direita, produz também os seus efeitos no Partido da Esquerda. Isto tornou-se óbvio durante as discussões no período que antecedeu a primeira manifestação do Partido da Esquerda em Leipzig, no início de Setembro, quando o campo nacional-social à volta de Wagenknecht entrou em conflito com a corrente da esquerda-liberal.32

Os ataques de Wagenknecht nas redes sociais contra o Ministro-Presidente Bodo Ramelow,33 que se diz ter impedido a tia da frente transversal do Partido da Esquerda de aparecer em Leipzig, não dão assim qualquer razão para esperar um nível mínimo de civilização no Partido da Esquerda. Ramelow é o único ministro-presidente alemão que, em 2020, escolheu deliberadamente um político da AfD para ser vice-presidente do parlamento estadual, a fim de permitir a „participação parlamentar“ da AfD.34 Em última análise, estas são apenas fricções internas entre diferentes correntes oportunistas do partido: entre as correntes de esquerda-liberais que apostam no verde-vermelho-vermelho, e correntes simplesmente reaccionárias, em que o pensamento de luta de classes degenerou em aberto populismo de direita, em que o „povo“ e a sua vontade, que tomou o lugar do proletariado, servem de código para o semi-nazi que anda pela frente transversal & Cª – e cujos delírios pretende servir.35

Ignorância e ideia de carreira

Mas nem tudo é intenção no oportunismo de crise do Partido da Esquerda. É também cegueira ideológica, simples estupidez da cena de esquerda36 que entra aqui em jogo. O aliado mais importante do oportunismo de esquerda é a ignorância, a relutância em dizer adeus à ideologia anacrónica, sobretudo associada a um activismo sem objectivo: „Não parle, faça“. Grupos da cena de esquerda marcharam com tais bandeiras na manifestação social em Leipzig no início de Setembro, para não serem perturbados por qualquer teoria na sua prática cega, que persiste na falsa imediatidade. Por vezes, nas conversas, qualquer crítica à prática oportunista do Partido da Esquerda é geralmente rejeitada, desde que ela própria não seja acompanhada pela prática („O que estás a fazer concretamente“?). De acordo com esta lógica, a demagogia social do Partido da Esquerda só pode ser criticada se se praticar a própria demagogia social, em que mesmo os conhecimentos fundamentais sobre a função da formação teórica são vítimas de uma regressão geral na esquerda.

Este culto cego da prática anda de mãos dadas com uma hostilidade crescente à teoria e um ódio descarado aos intelectuais, como é característico do pré-fascismo. Os ideólogos de „verdade simples“ e do „senso comum“ compatíveis com a direita estão a celebrar triunfos, os textos devem ser mantidos simples e escritos no estilo da oração principal para não forçar as pessoas a pensar – o que na realidade é apenas uma expressão das expectativas comodistas deste meio regressivo, que também é simplesmente preguiçoso em relação ao pensamento e se afasta do esforço de pensar, do envolvimento intelectual com questões complexas. O estúpido semi-nazi que se move entre ao pensadores transveersais forma a barra abaixo da qual é preciso passar, o que na realidade já é um insulto implícito ao grande „povo“ com que estes círculos fazem tanto alarido.

A regressão geral também se manifesta num desejo conservador de regresso aos velhos tempos revolucionários, de modo que, entretanto, os tradicionais aderentes marxistas na sequência da campanha social do Partido da Esquerda estão simplesmente a reanimar os slogans dos bolcheviques da era revolucionária, manifestando-se subitamente a favor do „aquecimento, do pão e da paz“ e imaginando-se como um pequeno Lenine em ascensão, quando na realidade são apenas aguadeiros do oportunismo do Partido da Esquerda. Rockin‘ like it’s 1917 – o que só é possível como um subproduto ideológico da distorção oportunista da crise sistémica na luta de classes e na questão social. A ignorância da crise e a ilusão ideológica formam assim uma boa base para o único movimento no interior da esquerda que tem um interesse real na marginalização da teoria da crise: o oportunismo.

Uma pitada de análise de classe: A esquerda de classe média

Outro momento que inconscientemente precede a demagogia social é, ironicamente, a origem social, a composição de classe dos detentores de cargos e funções nas fundações, no aparelho do partido e nos media que rodeiam o Partido da Esquerda. Estes são na sua maioria membros da classe média, que agora simplesmente têm medo porque têm o cu de classe média alemã branca, a bater no gelo no actual surto de crise. No aparelho do partido e na esteira do „Partido da Esquerda“, em todo o espectro de „esquerda-liberal“ no ambiente da esquerda dos „Verdes“, esta camada é dominante. A esquerda de língua alemã é em grande parte uma esquerda de classe média, o que é evidente no seu indestrutível culto do proletariado, que tem tudo a ver com esperanças vãs e nada a ver com a realidade capitalista tardia.

E, assim que o snob alemão de classe média é confrontado com um surto de crise que questiona concretamente o seu modo de vida anterior, ele descobre subitamente como a vida pode ser agradável – na classe média dos centros do falecido sistema capitalista mundial. O desejo conservador de que as coisas fiquem como estão manifesta-se em formas „compatíveis com a esquerda“: em cegueira perante a crise e em nostalgia social. A campanha social é assim também uma tentativa condenada ao fracasso de manter a sua própria posição social no meio da crise sistémica. A luta da classe média de esquerda liberal pelo Estado social, na sua falsa imediatidade, aproxima-se da luta pela manutenção do sistema, que está em colapso devido às suas contradições, e que tinha produzido um estrato estreito e privilegiado nos centros, globalmente falando, que quer acima de tudo uma coisa: permanecer classe média, como parte do „primeiro mundo“, é claro.

Resumo: oportunismo de crise de esquerda

Há, portanto, uma série de factores que levam a que este comboio, na sua maioria absurdamente estatista e anacrónico, seja tão bem sucedido, ainda que a crise tenha agora atingido um tal grau de maturidade que mesmo os seus antigos negadores de esquerda já não podem evitar incorporar fragmentos da teoria da crise nas suas ideologias esquerdistas-liberais, social-democratas ou leninistas, a fim de formar verdadeiras construções Frankenstein. A estupidez da cena esquerdista, o narcisismo e a ilusão ideológica formam uma boa base para o único movimento no interior da esquerda que tem um interesse real na marginalização da teoria da crise: para o oportunismo.

O que resulta de uma teoria da crise consistente? A ultrapassagem do capital como totalidade autodestrutiva é simplesmente necessária para a sobrevivência. Deixado à sua própria dinâmica fetichista, o sujeito automático em amoque completará a destruição mundial já posta em marcha. Esta máxima da práxis de crise de esquerda é consequentemente não negociável. Não há alternativa à tentativa de transformação num sistema emancipatório. Mas como se pode vender isto nos media ou no establishment político do capitalismo tardio, nas negociações da coligação ou no talk show? Na marginalização da consciência da crise radical, o oportunismo ainda pode esperar tentar ser um médico à beira do leito de doente do capital, o que, em última análise, equivale a tornar-se o sujeito da próxima administração da crise. É uma lógica de pânico de „salve-se quem puder“ que dá ao oportunismo a sua particular brutalidade na última grande corrida para os cargos e postos. Uma vez que os bunkers ou as ilhas privadas não estão ao alcance, procura-se refúgio nos aparelhos de Estado em erosão e asselvajados, o que também forma a base da fé crescente no Estado em secções da esquerda – é melhor entrar no aparelho do que ter de levar para fora.

O oportunismo de esquerda na crise sistémica do capital, que de facto degenera em administração da crise capitalista, pode assim basear-se em amplas tendências ideológicas e identitárias que muitas vezes funcionam de forma irreflectida na erosão da esquerda alemã em resultado da crise. A regressão teórica, o recalcamento da crítica categorial e dos conhecimentos teóricos que já foram alcançados, não só é alimentada pelo oportunismo de esquerda, como também faz parte da brutalização geral das sociedades capitalistas tardias na crise, o que também produz os seus efeitos habituais e conduz a um impasse. O conservadorismo de esquerda, que no seu culto do proletariado se agarra às partes anacrónicas da teoria marxista e só pode enfrentar mesmo a crise climática manifesta com um pensamento redutor de luta de classes, também promove objectivamente o oportunismo de esquerda, que distorce a crise sistémica numa questão de redistribuição. E finalmente, é a concomitante personificação da crise, a procura nos bastidores de vilões culpados pela inflação ou pela crise climática, que também fornece munições ideológicas para a nova direita – e que se manifesta de forma bastante concreta na agora aberta frente transversal em marcha.37 A direita na Alemanha parece já estar a emergir como um aproveitador da crise.

Antídoto ao oportunismo de crise: Digam o que é o quê!

Mas tudo isto não precisa de ser o caso – mesmo na Alemanha, com a sua terrível tradição nacional-socialista. A regressão, a fascização, a queda na barbárie não são inevitáveis. Que tal uma nova abordagem da práxis, em vez de repetir pela última vez os velhos contos das últimas décadas, de tom castanho? Como tentar dizer às pessoas o que é o quê perante a crise? É agora óbvio que o sistema mundial capitalista está em agonia e ameaça quebrar-se devido às suas contradições internas e externas, ecológicas – mesmo na esquerda alemã já se fala disso. A sensação monótona, generalizada entre a população, de que „não pode continuar assim“ deve ser retomada e concretizada na prática concreta. A tarefa última da esquerda é radicalizar o crescente mal-estar no capitalismo, ou seja, ir às suas raízes, para deixar claro que a ultrapassagem do capital no quadro de uma transformação do sistema é necessária para a sobrevivência. A passagem à história da relação de capital é, portanto, o último constrangimento material do capitalismo.

Ou o capital é conscientemente passado à história por um movimento emancipatório, ou destrói os fundamentos ecológicos e sociais do processo de civilização. É tão simples quanto isso. E isso pode ser explicado de uma forma compreensível às pessoas que há muito disso suspeitam, por exemplo, apontando o absurdo do crescimento económico sem limites num mundo finito – mas liquida a carreira de todos os oportunistas de esquerda que ainda querem participar na próxima administração da crise na política e nos media. É por isso que a questão da disseminação ofensiva de uma consciência da crise radical é crucial nos esforços de práxis da esquerda. Por um lado, forma a linha divisória do oportunismo, mas acima de tudo uma compreensão clara do carácter da crise é o pré-requisito fundamental para um movimento de transformação emancipatória. Uma vez que não existe nenhum „sujeito revolucionário“, uma vez que não existe nenhum espírito do mundo a ajudar secretamente a „astúcia da história“ a romper, a questão da consciência da crise é crucial.

É por isso que a questão da transformação do sistema deve ser abordada ofensivamente em toda a práxis – não porque as pessoas a queiram uma atitude radical, mas porque é inevitável para todos nós. O auto-movimento do capital ignorado pela crítica redutora do capitalismo, o fetichismo impulsionado pelas contradições internas da relação de capital, emerge claramente perante o iminente colapso sócio-ecológico, que também desgraça toda a lógica leninista dos interesses. A humanidade está impotente à mercê da dinâmica destrutiva do capital, que produz inconscientemente através da mediação do mercado, mesmo na sua agonia. A esperança que deve ser mantida, apesar de todas as evidências, é que no decurso do processo de transformação aberto, este fetichismo possa ser ultrapassado e convertido num movimento emancipatório para a formação consciente da reprodução social.

Existe assim um meio muito simples para distinguir o oportunismo do Partido da Esquerda da oposição clara e radical no caos da crise que se avizinha. Uma ultrapassagem emancipatória do capital só é possível com a formação de uma consciência da crise radical e crítica no seio da população, actualmente sabotada sobretudo pela demagogia social do Partido da Esquerda. É a tematização ofensiva desta verdade simples e evidente que o capitalismo está no seu fim, que uma transformação do sistema é inevitável e que é uma questão de sobrevivência colectiva conduzir o processo de transformação inevitável numa direcção progressista. Todas as políticas concretas de esquerda devem ser orientadas para este objectivo, para a próxima luta pela transformação do sistema, em vez de se agarrarem freneticamente às categorias que estão actualmente em processo de dissolução, a fim de obterem um lugar no bunker do governo perante a ameaçadora administração da crise.

Em rigor, uma revolução, que significaria o estabelecimento da famigerada „ditadura do proletariado“ leninista, já não é necessária, nem é possível, uma vez que o próprio proletariado se está a dissolver. O que é inevitável, porém, é uma luta de transformação, ou seja, uma luta ao longo do curso da inevitável transformação do sistema. E aqui, especialmente na sua fase inicial, podem certamente surgir momentos da velha luta de classes. Todas as lutas concretas – desde protestos sociais, a greves climáticas, a manifestações antifascistas ou movimentos de direitos civis – teriam de ser conscientemente conduzidas e ofensivamente propagadas como lutas por um futuro pós-capitalista. É necessário pensar, nos processos e contradições, a fim de identificar as forças e constelações que favorecem um curso emancipatório de transformação. E esta luta consciente pelo futuro pós-capitalista será também o verdadeiro denominador comum dos movimentos sociais concretos, o que impedirá a concorrência dos movimentos – por exemplo, entre movimentos sociais e climáticos.

A questão é simplesmente: que sociedade capitalista tardia deve surgir no processo de transformação inevitável: um Estado policial oligárquico altamente armado, ou uma democracia burguesa relativamente aberta etc.? No entanto, as lutas contra as tendências da crise capitalista tardia, como a pauperização, a desdemocratização, o fascismo, etc., devem – como foi dito – ser travadas ofensivamente, como momentos parciais da luta de transformação. Esta consciência da crise radical também pode inicialmente ser articulada em slogans e exigências: Protestos sociais e exigências de redistribuição, por exemplo, teriam como objectivo fazer com que os ricos pagassem pela próxima transformação – desde que o dinheiro ainda tenha valor. Porque em última análise, mesmo na luta social concreta, a fuga da prisão capitalista do pensamento já deve ser ousada, em vez de se agarrar a categorias em erosão como o Estado social etc.

É por isso que os derivados burgueses da lógica da luta de classes, tais como a crítica do consumo ecologicamente motivada e o correspondente pensamento de renúncia, são contraproducentes. Não se trata de restringir o consumo de mercadorias, que é apenas um momento no processo de valorização, mas de libertar a satisfação da necessidade humana do espartilho compulsivo da forma da mercadoria. Mais uma vez, a crise irá destruir o consumo (e também o Estado!) juntamente com a forma de mercadoria, como já acontece com muitas pessoas que vegetam à beira da fome nas zonas em colapso e „Estados falhados“ da periferia. A questão é como se pode lutar por uma satisfação consciente das necessidades para além da forma de mercadoria no âmbito de um processo de entendimento na sociedade como um todo, ainda na pendência da luta de transformação.

Antifascismo como luta contra a barbárie iminente

A práxis progressiva e progressista é assim apenas possível como um momento parcial da luta por um processo de transformação emancipatório – tudo o resto é oportunismo, conduz à ideologia da crise e, em última análise, à barbárie. A frente inicial da luta de transformação também corre entre campos políticos em erosão devido à crise, entre a esquerda e a direita. A direita (incluindo a frente transversal que objectivamente funciona para ela), que força o extremismo do centro38 através de uma adesão reaccionária ao existente em colapso, impulsiona o fascismo, que está a cair no anómico, como forma de crise abertamente terrorista da dominação capitalista; o resto da esquerda ainda poderá contrariar isto como uma força emancipatória, se nela prevalecer uma consciência da crise radical, que se tornará a base de um processo de transformação conscientemente conduzido. A este respeito, é precisamente o anti-fascismo – à semelhança da última crise sistémica dos anos 30 do século XX – que parece estar a emergir como o primeiro campo central de luta da luta de transformação.

Ao contrário da luta de classes, em que os trabalhadores permanecem no processo de valorização como „capital variável“, a luta de transformação no decurso da crise pode ser rapidamente tomada por uma lógica eliminatória, uma vez que com o processo de valorização entra em colapso a base económica comum das classes em dissolução. O inimigo já não é economicamente „necessário“, apenas se torna um concorrente supérfluo. A vontade da UE de transformar o Mediterrâneo numa vala comum para refugiados da crise oferece um vislumbre do potencial bárbaro do processo de crise. Em última análise, a questão é se a dominação sem sujeito do capital pode ser ultrapassada no decurso da próxima transformação, ou se a extrema direita, que já está a arrastar os pés nas suas redes no Estado profundo, conseguirá, uma última vez, tornar manifesto o potencial bárbaro inerente à relação de capital.

É também por esta razão que, por exemplo, os movimentos de protesto contra a desdemocratização, o Estado policial e os planos autoritários são essenciais como momentos parciais da luta de transformação, uma vez que isso pode ajudar a manter o processo de transformação numa via civilizada durante o maior tempo possível antes que a lógica militar se instale. Os restos da democracia burguesa devem assim ser defendidos com unhas e dentes, com plena consciência da sua inevitável erosão, a fim de preservar espaços de emancipação pós-capitalista, nos quais a liberdade seria libertada da sua deformação e perversão pelo capital.

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2 https://berlinergazette.de/hitzewelle-toedliche-logik…/
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9 Por falsa imediatidade entende-se aqui a tendência dos movimentos sociais a persistirem inconscientemente em modos de pensar que correspondem às condições e contradições sociais contra as quais eles são efetivamente dirigidos.
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17 https://www.konicz.info/2021/08/08/dreierlei-inflation/ [Português: https://www.konicz.info/2021/08/11/tres-tipos-de-inflacao/]
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19 https://www.rbb24.de/…/brandenburg-havel-demonstration…
20 https://www.heise.de/…/Gemeinsam-gegen-Rothschild…
21 https://www.heise.de/…/Nationalsozial-in-den-Wahlkampf…
22 https://www.konicz.info/2022/02/01/wahn-wenn-nicht-jetzt/
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Original “Opportunismus in der Krise” publicado em konicz.info, 06.10.2022. Publicado em untergrund-blättle, 10.10.2022. Tradução de Boaventura Antunes
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